Em Ritmo de Concerto, Objetiva, Brazil, 2000

Dejniov, Nikolai

Grupo Zeta

ANO DE EDICAO: 2000

Uma bem-humorada historia de amor na Moscou dos dias de hoje. Uma brilhante satira sociopolitica. Uma historia de enredo fantastico e narrativa envolvente. Lucario e um anjo que volta a Terra para expiar pecados de seu passado. Vivendo como duende na casa de uma velha senhora, ve seu mundo transformar-se quando conhece Ana, a bela sobrinha da mulher. Lucario passara entao a viver o maior dos dilemas- seguir o caminho em direcao a purificacao total de seu espirito ou tomar a forma humana para tentar conquistar o amor de Ana. ‘Em Ritmo de Concerto’ envolve o leitor com seu enredo fantastico, mas convincente, seguindo a melhor tradicao do realismo magico, sua trama bem desenvolvida e uma narrativa fluente, com pitadas de humor e ironia

«Setembro em Moscou nao e a melhor epoca do ano. Principalmente nos seus primeiros dias. Ai por meados do mes comeca o veranico, mas os primeiros dias costumam ser opacos, e quando nao sao chuvosos, sao nublados. A cidade fica de cima a baixo tomada de uma desolacao cinzenta e nostalgica, que faz o coracao sentir apertos no pressentimento de um inverno longo e frio. Se nao chove nem faz uma umidade estafante, venta. Pelas ruas, que cedo ficam desertas, ele empurra o lixo acumulado a sua frente, as folhas caidas das arvores, latas e restos de jornais. O que ha nelas, nessas novidades ja envelhecidas? O verao passou, passou o verao — essa e a novidade mais importante.
Lukin abaixou-se, apanhou da calcada uma folha de jornal amassada, alisou-a sob a luz vacilante de um lampiao que o vento balancava. Entao, os fascistas estao se empenhando para chegar ao poder na Alemanha… Numeros do cumprimento do primeiro plano quinquenal … Sutchkov, soldado do Exercito Vermelho, recebeu um relogio com o nome gravado como premio pela bravura demonstrada em um incendio…
Arena escura, triste! A liberdade como necessidade, conscientizada no regime proletario. Lukin amassou o jornal, atirou-o na calcada. Apanhado pelo vento, o bolo de papel saiu rolando no calcamento. Com o chapeu caindo na testa e com o rosto escondido pela gola da capa, Lukin acendeu um cigarro, aprumou-se, olhou para a extremidade da rua.
— Haja o que houver — disse em voz alta -, aconteca o que acontecer, um incendio ou a agonia da ditadura, sempre havera gente tirando proveito disso. Pelo visto assim e o bicho homem: tira proveito de tudo!